Expedições Acauã 2006 – Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e cidades históricas de Minas Gerais
2006 – Chapada dos Veadeiros (GO) / Minas Gerais
Foram meses de preparação. A primeira viagem do trio, base do que mais tarde formaria o grupo “Expedições Acauã”, foi de muita ansiedade e organização.
A ideia era se fazer uma viagem por ano, para um destino com uma ‘pegada’ ecológica e fora do chamado turismo convencional.
Distante quase 1.000 km de Ribeirão Preto, a Chapada dos Veadeiros agradou. Conhecer o Brasil Central em uma aventura com um jipe Niva, cruzando os estados de Minas Gerais e Goiás. Esse foi o plano.
O acesso ao parque Chapada dos Veadeiros faz-se através das cidades vizinhas do Alto Paraíso de Goiás ou de São Jorge. Ficamos em São Jorge.
Na Chapada, a aventura começou logo na chegada. Destino também de ufólogos e pessoas com orientações em diversas doutrinas místicas, não encontramos uma única pousada com quarto(s) livre.
O jeito foi conseguirmos um acampamento (no caso, ficamos no da Ana Nery). Conseguimos vagas para montar nossas barracas e ouvir muito Bob Marley, sob um ar nauseado pelas substâncias inerentes a que jovens (e outros nem tanto) se entregavam, por toda a noite. Só!
No dia seguinte, a aventura maior foi uma caminhada em trilha de mais seis horas, incluindo, claro, subidas, descidas e passagens por dentro de rios. Até chuva tomamos. E muita. Pelo caminho, desfiladeiros deslumbrantes e formações de cristais de quartzo. O rio Preto tem piscinas rochosas e quedas de água, algumas delas com mais de 100 metros de altura.
A maior delas – e ponto alto da trilha – é a cachoeira do Label, considerada a maior queda d’agua da Chapada dos Veadeiros. Segundo informações do ICMbio, são 187 metros de altura, 19m a mais que o Salto do Itiquira. Fantástica.
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi criado em 1961, protegendo uma área de 240.611ha de cerrado de altitude. Abriga centenas de nascentes e cursos d’água, além de paisagens de rara beleza, com feições que se alteram ao longo do ano. O Parque também preserva áreas de antigos garimpos, como parte da história local e foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO, em 2001.
Do Parque Chapada dos Veadeiros, partimos para Cavalcanti, depois Teresina de Goiás, onde visitamos mais cachoeiras e rodamos muito com nosso Niva em estradas de terra. Chegando em Cavalcanti tivemos uma grata surpresa. Em um pequeno bar muito simples, claro, de madeira, paramos pra tentar comer alguma coisa. Já era mais de meio-dia e a gente estava na estrada desde cedo. Não nutrimos muitas esperanças, mas sorte, o tempo estava do nosso lado (coisa rara nas viagens futuras). A venda do seu Durval, não tinha nada além de uns salgadinhos industrializados… Mas tinha uma cervejas geladas e ficamos batendo um pouco de papo furado. Foi quando a esposa do sr. Durval perguntou que se, a gente tivesse com certo tempo, ela mataria um frango e faria pra nós. Ninguém ousou recusar. Um frango caipira, à beira da estrada aliado a uma boa fome, era tudo o que precisávamos. Nenhum dos três integrantes dessa primeira viagem jamais esqueceu o almoço serviço pelo sr. Durval e sua esposa naqueles rincões do Goiás. Como se diz no sertão: comemos feito gente grande!
Rumo às ‘Gerais’
Pelo planejamento – já que o tempo era curto – descemos rumo a Minas Gerais, por Cristalina. Em Minas, o objetivo da viagem era conhecer as cidades históricas de Mariana, Ouro Preto e Congonhas do Campo, berço das obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, um dos maiores escultores barrocos do Brasil e do mundo.
Em Congonhas do Campo, entre 1796 e 1805, Aleijadinho fez o que é considerada sua obra-prima: as esculturas dos 12 Profetas, no santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Ali também estão 66 imagens de sua autoria, esculpidas em madeira e representando os Passos da Paixão. O santuário foi tombado como Patrimônio da Humanidade pela organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1985.
Como arquiteto, o trabalho mais relevante de Aleijadinho foi a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Além das obras que estão em Ouro Preto e Congonhas, seus trabalhos podem ser vistos em outras cidades mineiras, como Sabará, São João del Rei, Mariana, Caeté, Barão de Cocais e Tiradentes.
Ouro Preto é um ‘santuário’ de igrejas. Pra quem não conhece, é o registro de uma parte muito importante da história do Brasil, independentemente do credo religioso.
E assim, embora levados inicialmente pelos interesses ecológicos, vivemos na nossa primeira expedição, muito do misticismo das chamadas correntes alternativas da fé e também das mais ortodoxas, tão cultivadas nas ‘Minas Gerais’. Se mudou nossa fé, não sabemos; mas nossas vidas, sim, para sempre. Começava ali, em 2006 um sonho de conhecer todos os países da América e com nossos carros e muita sola de botina pra gastar…