Expedições

Expedições Acauã 2010 – Expedição Cavernas do Peruaçú (MG) / Bahia (Ilhéus / Chapada Diamantina / Canudos)


 

As riquezas guardadas no Vale do Peruaçu

Equipe Acauã fez caminhada de até cinco horas no Parque Nacional Vale do Peruaçu, região norte de Minas. O parque possui as maiores – e talvez mais belas cavernas do Brasil – mas ainda está fechado ao público

De Januária, Minas Gerais, nós, das Expedições Acauã, seguimos para o município vizinho de Itacarambi. O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é fechado ao público, sendo, portanto, proibida sua visitação. O problema é que parte das terras desapropriadas para a formação do Parque ainda não foram pagas aos antigos proprietários e, por isso, a União não pode transformar o local em ponto de visitação turística. No meio do impasse legal (que, aliás, não é uma exclusividade do Peruaçu) a solução é mantê-lo fechado, já que falta infra-estrutura para proteger o imenso patrimônio que pode, simplesmente, desaparecer nas mãos de turistas sem consciência de preservação. Para fazer a reportagem, conseguimos uma autorização especial do Ibama.

A porta de entrada para o Parque é o distrito de Fabião que, não dispõe de nenhum hotel. Os moradores, no entanto, apoiados por organismos como o Sebrae, criaram uma espécie de associação e oferecem o que chamam de pousada familiar ao visitante. Normalmente pesquisadores. O nome é, inclusive, pomposo: Associação das Pousadas Familiares e Semi-Lares do Vale do Peruaçu. “Liberar a visitação ao Parque é a nossa grande luta junto ao Governo Federal”, ressalta Késsia Dourado, secretária do Turismo de Itacarambi. No município estão mais de 60% dos 56mil ha da área total do parque.

Com a pousada familiar, no entanto, a equipe Acauã teve uma forma agradável de compartilhar e conhecer melhor ainda a realidade local. É uma convivência com a realidade local. Os moradores da região aguardam ansiosos, a liberação do parque para visitação turística e, com isso, obterem novas formas de renda. Hoje os mais jovens trabalham no corte da cana e boa parte deles, inclusive, vem pra região de Ribeirão Preto trabalhar durante a safra.

As acomodações são modestas, mas muito aconchegantes. A cama é uma das de uso da família, o banheiro é o da casa, a comida é compartilhada por todos, e, como diria o mais apostólico dos membros da expedição, “é tudo uma delicia”.


 

Farofa caseira e a perna da bailarina…

O Parque do Peruaçu possui a maior concentração de cavernas do Brasil. Entre elas a do Janelão, que possui o maior pé direito de cavernas do país. Com cerca de quatro km de extensão, a caverna do Janelão possui ainda três clarabóias que dão um show de iluminação mas o paredão dos tons azuis é o que mais impressiona.

Adentrando as cavernas, as estalactites e estalagmites impressionam pelo tamanho e beleza. Um trabalho paciente da natureza que de gota em gota constrói monumentos maravilhosos nas rochas de calcário. Lá, na terceira clarabóia, chamada de “Buraco do Macaco”, encontramos a “perna da bailarina”, a segunda maior estalactite do mundo, com 29 metros. O nome é perfeito já que a estalactite tem a forma inconfundível de uma bailarina apoiando-se na ponta dos pés. Uma obra da natureza e que continua crescendo…

Caminha-se muito dentro do vale. As subidas são íngremes; as descidas exigem cuidados e há sempre o risco de se resvalar no famigerado Cansanção (uma planta muito mais potente que a urtiga, muito comum em toda a região nordeste). A equipe Acauã fez caminhadas de até cinco horas dentro do parque. Para repor as energias do passeio levamos na nossa “traia” (porque esse termo tão usado por pescadores não consta no dicionário?) uma farofa típica, basicamente composta por farinha, carne, tomate picado e, claro, o inigualável tempero de Minas, oferta das casas onde nos hospedamos.

Peruaçu é um paraíso para pesquisadores, além das cavernas repletas de obras de arte produzidas pela natureza a região possui inúmeras pinturas rupestres – como na Lapa dos Desenhos – com idade estimada entre sete e oito mil anos e até mesmo uma múmia de cerca de 1.000 anos foi encontrada no local. Quando o parque estiver aberto ao público, você, leitor pode chegar ao local com o GPS (Long. 044º 14.7157 W e Lat. 15º.08.4338 S), a 589,6m de altitude.

Uma das cavernas, a Bonita, é um convite para os olhos, com salões cada vez mais profundos e escuros revela sob a luz das lanternas um impressionante conjunto de formações que enchem os olhos. O nome da caverna parece simples, mas não poderia ser diferente a forma de expressar a sensação de andar no seu interior.


 

Caraíbas – A história de um terremoto no Brasil

Outra curiosidade nos aguardava na visita a Itacarambi: conhecemos Caraíbas, vila onde em 2008 um terremoto de 4,9 graus na escala Richter deixou a única vítima fatal de um tremor no Brasil.

Localizada a cerca de 10km de Itacarambi, a Vila, à época do tremor abrigava 70 famílias. Hoje são apenas 10. Ainda há tremores leves de terra no lugar. Dona Maria Eunice Oliveira Bezerra e seus cinco filhos, resistiu a todas as pressões, mas nunca abandonou o local. “Se tiver que morrer, vai ser aqui mesmo, moço”, diz valente e resignada.

Logo após o terremoto, o poder público construiu algumas casas populares na periferia de Itacarambi para abrigar a população de Caraíbas. Acostumados, porém, a plantar em seu próprio quintal era esperado que não se acostumassem ao pequeno terreno na cidade. Lentamente os moradores estão voltando para as casas condenadas para tentar a viver como antes do terremoto. Uma história incrível, quase inacreditável para um Brasil pouco acostumado aos desastres naturais.


 

Os Acauãs na fantástica Chapada Diamantina

Mucugê, a porta de entrada da Chapada

Na Chapada Diamantina, as trilhas e cachoeiras num dos mais ricos e belos parques nacionais do Brasil. Mas não é só isso: tem a história da Bahia…

Após visitar o Parque de Peruaçu a Expedições Acauã rumou para a Chapada Diamantina, enfrentando estradas completamente esburacadas e cortando infindos caminhos em estradas de terra. Não se iluda o leitor e futuro visitante da região com seu GPS. Por aquelas bandas, o acessório no carro é peso morto. E é, claro, o PAC também não passou por lá…

Já havíamos rodado mais de 1.300 km e enfim chegamos à Bahia do jeito que um baiano gosta: numa sexta à tarde…

Uma das cidades do caminho chamou muito a atenção: Rio de Contas, do ciclo dos diamantes, ao sul da Chapada Diamantina. Uma bela igreja de pedra e a antiga cadeia são construções preservadas que fazem a parada valer a pena.

Já na Chapada, Chegando em Mucugê, o que mais impressiona é o cemitério bizantino logo na entrada na cidade. São dois cemitérios nesse estilo no mundo, um na Itália e o de Mucugê – que teve sua primeira tumba construída em 1855 – é uma parada inusitada, mas obrigatória para quem vai à Chapada.

Em Mucugê, – cidade de 12 mil há entre a população urbana e rural – é agradável andar pelas ruas. Uma pacata cidade do interior do estado da Bahia, onde o tempo, claro, passa devagar.  A tradição da cozinha baiana, claro, é muito presente na cidade. No restaurante da Dona Nena, na rua do Banco do Brasil, a pedida “sem errada” é o “Godó de banana verde” juntamente com o “arroz de garimpeiro”. São pratos fortes, mas nunca se esqueça que o sertanejo é, antes de tudo, um forte (mas esse é tema para uma próxima expedição).

Profissionalismo e informação. O turismo é levado a sério na cidade. Mucugê abriga a sede do projeto Sempre Viva, um exemplo de turismo sustentável e responsável e produção e divulgação de conhecimento. O pesquisador Euvaldo Ribeiro é o coordenador do projeto e do Parque Municipal de Mucugê. “Baiano burro nasce morto”, sempre disse o pai baiano deste que esta escreve. No Sempre Viva se tem a certeza disso. Prova é que já recebem aproximadamente 17 mil visitantes por ano.

O projeto leva o nome de uma planta típica da região que mesmo depois de cortada e seca se abre e se fecha feito um buquê e provocam verdadeiro frisson principalmente no turista estrangeiro. Há quem diga que um buquê da sempre viva custe algo em torno de 400 euros na Europa. A cidade de Mucugê tem uma espécie única da família das sempre vivas que é também é típica da região central do Brasil. As expedições Acauã haviam visto outras espécies de Sempre Vivas no Parque do Jalapão no Tocantins e na Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Além do Sempre Viva, o visitante não pode deixar de visitar o Museu do Garimpo. Ouro, diamante e outras pedras preciosas fizeram a riqueza financeira da região no passado e hoje ainda mantém um inigualável legado cultural.


 

Acauãs: explorando a Chapada Diamantina

A Chapada Diamantina possui uma área total de 152 mil há. Nada menos que 52% dessa área estão no município de Mucugê e o restante se divide em outros cinco municípios

Na região da Chapada Diamantina, um dos passeios imperdíveis é o Poço Azul, localizado no município de Nova Redenção. O local é uma alternativa que pouco perde para o famoso “poço encantado”, infelizmente lacrado pelo ICMBio para visitações turísticas por conta da depredação que vinha sofrendo.

O poço azul é uma gruta cheia de água límpida e parada. O detalhe é uma entrada de luz que dá um maravilhoso tom azulado na água e que permite aos visitantes munidos de snorkel observar pela água transparente, as profundas formações da gruta. Uma experiência de tranqüilidade e beleza. O reflexo da lâmina d’água parada a transforma em um espelho perfeito. Juraci Vieira da Silva é o guia local e se diverte fazendo fotos fantásticas, explorando os incontáveis recursos das máquinas fotográficas dos próprios turistas.


 

No Riachão das Pedras, a cachoeira do Buracão

Também tomando como base a cidade de Mucugê é possível ir até a Cachoeira do Buracão. Para chegar lá é necessário contar com um condutor da cidade de Ibicoara. Só assim liberam o acesso para a cachoeira. Janu foi nosso condutor e a entrada, R$ 3,00 por visitante. Após um bom trecho dentro dos jipes, fizemos uma caminhada relativamente “puxada” pelas margens do rio Espalhado. Depois chegamos ao Riachão das Pedras e, por fim um ponto que hoje é chamado de “Recanto Verde”. A recompensa é certa, porém, quando se chega ao ponto final, por cima da cachoeira. Não é apenas uma impressão: todo o grande volume de água do rio desaparece em um buraco, daí o nome de cachoeira do Buracão. Uma vista impressionante! Uma cachoeira de aproximadamente uns 80 metros vista de cima. (Com o GPS, longitude 41º 08 7661 W – Latitude 13º 19 5721 S e altitude de 568 metros).

Óbvio que nada tira da cabeça do visitante, a vontade de nadar naquele poço. E é isso que nós, os Acauãs fazemos, claro. Há uma outra trilha que permite que se chegue até ao nível de sua queda. O visitante, porém, tem que nadar entre os canyons para chegar até a cachoeira. A correnteza não é muito forte, mas uma simples paradinha para descanso faz perder todo o trajeto nadado. Aos “pés” da cachoeira, não há visitante que não se emocione.

No caminho de volta para Mucugê, mais uma surpresa. Numa pequena vila, pudemos conhecer uma verdadeira casa de farinha. A família toda estava às voltas com a produção artesanal. Por R$ 2,00 o “litro” (essa é a unidade de medida em que eles comercializam a farinha de mandioca), cada Acauã trouxe pra casa um bocado torrada na hora. Estava até quentinha ainda…


 

A história de Pai Inácio e a cachoeira da Fumaça

Dia seguinte; pé na estrada. O próximo destino foi Lençóis, outra das principais cidades da Chapada Diamantina. A cidade é bem preservada e com muitas construções históricas além de grande infra-estrutura para os visitantes. O restaurante “O Bode”, na famosa Praça Horácio de Matos (Beco do Rio), foi uma das experiências gastronômicas mais fascinantes para o grupo.

Tinha de tudo: carne assada, galinha caipira, pirão, moqueca de peixe, feijão tropeiro, farofas várias e a especialidade da casa: o bode ensopado. E tudo em panelas de ferro e de barro sobre um rústico, mas não menos majestoso fogão à lenha. (E, sinceramente, leitor, com a fome que a gente estava, nem precisava estar tudo tão bom… Mas estava!).

“Barriga cheia, pé na areia”, diz o ditado popular. E como o “gosto” das Expedições Acauã é sempre por lugares mais inóspitos, seguimos para Palmeiras, ao oeste de Lençóis.

No caminho, bem na beira da BR, está o Morro do Pai Inácio. De lá são avistadas as paisagens mais lindas e as mais conhecidas da Chapada Diamantina. O principal atrativo é aguardar o pôr-do-sol, observando a linda paisagem infinita. Tivemos sorte com isso.

Diz a lenda que Pai Inácio era um escravo pelo qual a sinhazinha apaixonou-se. O senhor das terras, no entanto, decretou sua pena de morte. Ele teve que esconder-se no local com a única lembrança deixada pela sua amada, uma sombrinha. Avistado no morro e cercado pelos capangas do feitor, ele ficou a beira do despenhadeiro, de onde, para surpresa de todos atirou-se. Os guias atuais, diante da atônita reação dos visitantes à história, possuem outra versão: dizem que na época, todos o deram como morto, mas não viram que Pai Inácio teria se salvado graças à sombrinha que lhe servira como pára-quedas. A cruz de madeira no alto do morro, porém, é bem real.

É preciso desprendimento para que uma oportunidade realmente se abra para o espírito aventureiro. Palmeiras é assim. Caminho de uma série de atrações na Chapada; ponto de partida para os que desejam mais do que só ver uma fantástica paisagem, mas tem coragem suficiente para aventurar-se.

O mais conhecido desses pontos turísticos é a Cachoeira da Fumaça, no Vale do Capão. E a trilha mais difícil também. A compensação vem por uma fantástica queda da água de340 metros que pode ser avistada por cima. A visão é linda e, pela altura, a água da cachoeira não chega ao chão. Transforma-se antes numa nuvem de vapor, que dependendo da direção do vento até molha os visitantes.

Para avistar a cachoeira é preciso deitar em uma pedra e olhar para baixo, só é possível fazer isso com alguém segurando seus pés. Tamanha a altura, há quem nem deitado ouse olhar pra baixo. Outro destaque é o acesso ao local. São nada menos que seis quilômetros de caminhada intensa e com uma subida que, logo no início, conseguiu calar o mais falante do grupo. Depois, foram mais duas horas para a volta, claro, mas descer…

As atrações da Chapada Diamantina são muitas, mas como o tempo é escasso o grupo Expedições Acauã partiu para seu próximo destino, já que mil quilômetros separavam Pai Inácio de outro anti heroi: Antônio Conselheiro.


 

Canudos, Bahia, onde o sertanejo é um forte

Mais de 100 anos já se passaram, mas ninguém no sertão da Bahia esquece o nome do ‘monge’ Antônio Conselheiro e a tráfica guerra de Canudos

Em 1902 foi publicado o livro “Os Sertões”, do correspondente do jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha, que foi acompanhar para escrever para o jornal o combate que se dava no sertão da Bahia contra Antonio Conselheiro e seus seguidores.

Este que é considerado um dos maiores livros brasileiros só foi possível por seu autor ter visitado o local, por isso é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Como explicar a Guerra de Canudos sem explicar a geografia do local?

As Expedições Acauã, grupo formado por profissionais de comunicação de Ribeirão Preto, seguiu da Chapada Diamantina, já relatada, até Canudos, cruzando os caminhos que separam Pai Inácio de Antonio Conselheiro.

A expectativa do grupo era começar a relatar a viagem a partir do município de Euclides da Cunha, batizado em homenagem ao escritor que colocou a região na história. O despreparo do poder público, porém, menospreza o potencial turístico da cidade que poderia gerar renda e trabalho.

Desprezam a própria história e não se viu sinal de respeito com a obra do homenageado ou mesmo com o nome da cidade. Quem deseja conhecer essa interessante parte da história do Brasil deve dirigir-se direto para Canudos. Euclides foi, agora pelo próprio sertanejo contemporâneo e displicente, traido mais uma vez…


 

Cruzes simbólicas e ossos de verdade…

Primeiro fomos conhecer a Canudos velha, que na verdade é a segunda Canudos. Antes, paramos no pequeno vilarejo de Bendegó, às margens da represa que cobriu a primeira e histórica Canudos. Lá, dona Miuda é a responsável por um pequeno cômodo tratado como museu. O ingresso de R$ 3,00 por pessoa é uma espécie de ajuda para quem guarda a chave do cadeado, mas, infelizmente, não há qualquer profissionalismo e, por conseqüência, informação histórica. Algumas poucas peças de época são misturadas a objetos atuais e o museu foi e ainda é, vítima de furtos.

Às margens da represa, porém, 100 cruzes homenageiam os mortos na guerra e aí, sim, a percepção nos revela o sentimento de que estamos em Canudos, palco de uma das mais sangrentas guerras civis do sertão, do país, e porque não do mundo. A degola, em Canudos, foi ato contínuo para justificar a violência do inimigo. Por ambas as partes. Uma guerra de horrores que não poupou sequer mulheres e crianças. As cruzes foram ali fincadas no ano do Centenário da guerra, em 1997.

Do outro lado da represa está a “nova” Canudos, a terceira cidade a ser construída. Esta sim, uma “cidade” e com moradores amargurados que até hoje reclamam da construção da represa. Para eles, a obra no rio Vaza-Barris – que teve início no segundo governo do presidente Getúlio Vargas – teve a clara intenção de tentar cobrir a história da violenta ação das tropas do exército que dizimou os seguidores de conselheiro.

Essa é a sensação geral. De José Batista de Lima, o vigilante solitário da gigantesca estátua de Antônio Conselheiro num mirante a beira da represa de onde se avista toda a cidade, até Joselina, a dona da pousada que investe na sua estrutura, vislumbrando a prosperidade do turismo histórico, infelizmente ainda pouco praticado no país.

Na cidade existe um grande museu com algum acervo e explicações sobre a guerra que merecem uma rápida visita. A melhor visita, no entanto, é o Parque Estadual de Canudos, mantido pela Universidade do Estado da Bahia. Lá sim, é possível sentir como o meio interferiu na formação das pessoas; observar alguns vestígios da guerra (ainda há pedaços de ossos incrustados no seco solo do sertão) e entender porque as três primeiras tropas do exército brasileiro – despreparadas e ignorantes sobre a natureza hostil da região – foram alvo fácil dos conselheiristas no Vale da Morte.

São vários os pontos de parada, como a casa da fazenda, trincheiras e o cruzeiro em homenagem às vítimas. A flora agreste impressiona; a vegetação baixa, com muitos espinhos é espalhada, mas vista de longe, parece fechada e densa. Cenário perfeito para uma emboscada.

Além, claro, de preservar, a Universidade do Estado da Bahia estuda o local constantemente e vai cercando e identificando os ‘sítios’ que contém resquícios e objetos do cenário da guerra. Em um desses sítios, uma placa em metal informa a ‘relíquia’ (grifo nosso) encontrada: uma ossada de uma criança de aproximadamente seis anos…


 

Para entender: A Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no sertão da Bahia. Liderados por Antônio Conselheiro, um líder sócio-religioso, os sertanejos encontraram motivação para construir uma próspera comunidade no meio do sertão agreste. A “independência” dos sertanejos, aliada a um espírito socialista “todos se ajudavam e tudo dividiam” não demorou a incomodar os grandes fazendeiros e o poder político, já que, pela auto-sufiência – dizem alguns historiadores – Conselheiro também pregava uma certa independência tributária perante o Estado. Há quem defenda que toda a guerra começou pela falta de pagamento de impostos sobre uma madeira que Conselheiro transportava para construir mais casas para seus seguidores. Mais de cinco mil casas foram construídas em Canudos durante o período de Conselheiro.

A guerra não demorou e, amparados na liderança de Conselheiro, no entusiasmo em defender a comunidade e tendo como aliado a vegetação agreste (os jagunços montavam vestidos em roupas de couro, cujos espinhos da vegetação da caatinga quase em nada afetava), os canudenses venceram duas tropas do exército. Uma delas em um único dia, de forma humilhante para o governo.

A resposta, claro, foi sem piedade. Cerca de 25 mil mortos, na proporção de cinco moradores para cada soldado. A terceira tropa veio munida como se estivesse em guerra contra outro país e varreu Canudos do mapa. Uma segunda Canudos foi reerguida, mas ficou sob as águas do rio Vaza-Barris em forma de represa. Hoje, uma terceira cidade foi erguida e o turismo histórico daquilo que foi um dos mais tristes episódios da história brasileira pode ser a fonte de renda que sustente o sertanejo contemporâneo que, à exceção do programa Bolsa Família, não vive em situação  muito diferente daquela dos idos dos anos 90 do século XIX.

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