Expedições Acauã 2013 – Ushuaia, a viagem ao ‘Fin del Mundo’
O melhor do ‘Fin del Mundo’ é o caminho
Uma viagem de mais de 11 mil km em 17 dias; uma média de 1100 km rodados por dia
Quando fomos pegar o avião com destino a Porto Alegre para encontrar nossos jipes, enviados antes por cegonha para a capital do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2013, tínhamos planejado muito a viagem. A viagem foi decidida unanimemente, após visitarmos o extremo Norte do continente, um ano antes. Agora queríamos visitar o extremo Sul do continente… e do mundo.
O primeiro pernoite foi em Chuí, fronteira com o Uruguai, ponto mais sul do Brasil, uma pequena cidade, grudada em Chuy, já cidade do país vizinho, separados apenas por uma rua. Se é uma cidade igual a tantas outras de fronteira seca da América Latina? Como diria um componente da equipe, como resposta: -“Uhum”.
Essa viagem exigia paradas curtas, pois a distância a ser percorrida ida e volta era a maior que enfrentávamos até então. Passamos por Punta Del Este e Montevideo no mesmo dia, com rápidas paradas para conhecer e seguirmos para dormir em Colônia Del Sacramento, uma pequena cidade turística ao extremo Sul do Uruguai, de colonização Portuguesa (aliás, a única cidade de colonização portuguesa na América do Sul, fora do Brasil), com lindos prédios e calçamentos. E um pôr do sol, único! Embora muito rápida a passagem, atravessamos um Uruguai histórico, bonito, limpo e com excelentes estradas.
Em Colônia pegamos logo cedo o Buquebus, uma moderna, gigante e confortável balsa que atravessa em cerca de 2 horas a Bacia do Rio Del Prata, com destino a Buenos Aires, levando pessoas, carga, veículos… Chegamos ao amanhecer na capital da Argentina. Alí também fizemos uma rápida passagem, grande parte do grupo já conhecia, e só fizemos questão de passear na Casa Rosada e visitar na Catedral o túmulo de José de San Martin, o libertador da parte sul do continente dos exploradores espanhóis, e que, assim como Bolívar, acompanham diversas partes da história de nossas viagens. Também visitamos o tradicional Caminito e o museu do Boca Jr. no estádio La Bombonera.
Acordamos cedo no dia seguinte e começamos uma imensa saga de 3 mil km pela mística Ruta 3. É um caminho interminável, não pela distância, mas pela paisagem. É uma grande reta, o cenário é a mesmo o caminho inteiro, cruza-se com poucos carros durante o percurso, quase nenhuma cidade, pouquíssimos postos de gasolina (aliás, para o desavisado visitante, quando vir um posto de gasolina, pare e abasteça, mesmo que esteja na metade, porque você nunca saberá quando encontrará outro), e um vento indescritível, que força você a dirigir jogando o volante contra o vento, apesar das retas. Quanto mais ao sul, mais reto, deserto, frio, vento, e a presença de muitos Guanacos (camelídeo ‘primo’ das Lhamas, à beira da estrada).
O Estreito de Magalhães e duas aduanas em questão de horas
Pernoitamos em todas as capitais de estados do percurso, auxiliados pelo sol, que se põe por volta de 22h no verão na região, tornando o dia longo e produtivo, mas sempre na mesma paisagem de moitas e retas, até chegarmos à balsa que atravessa o Estreito de Magalhães e nos leva até a Isla Grande da Terra Del Fogo. É impressionante a força das águas. Mesmo gigante e lotada de carros, caminhões e ônibus, ainda se consegue perceber que a balsa balança olhando-se em seu mastro… As Toninhas (primas dos golfinhos) que acompanham a balsa no balé das ondas, também fazem um espetáculo à parte.
O mais incrível, porém, foi desembarcar e continuar a viagem, como se tivéssemos pegado uma ‘nave’ que nos transportou para uma paisagem completamente diferente. Agora, ao invés da vegetação rasteira e linha reta, aparecem lindas montanhas, lagos, vegetação e muito mais frio.
Neste trecho é necessário sair da Argentina e ingressar no Chile. Basta olhar o mapa e ver que Ushuaia não está conectada com a Argentina. O território foi fruto de uma troca feita pelo Chile, para que a Argentina não tomasse partido na guerra com a Bolívia, em que os chilenos conquistaram grande parte do Atacama, roubando a saída para o mar que a Bolívia até hoje reclama…
Duas aduanas, com carro, no mesmo dia, para entrar no Chile e voltar para a Argentina atrasaram a viagem, o que nos forçou a dormir em um hotel de pequeno porte em um povoado de mineradores, em uma noite extremamente fria.
Retomamos o percurso na manhã seguinte, por longas estradas de rípio (espécie de cascalho). E assim foi desde que entramos na Patagônia… estrada de pedra, molhadas pela neve, especialmente pela manhã… E isso, em pleno verão.
A chegada em Ushuaia emociona. Uma pequena e acolhedora cidade turística, apesar do imenso frio em pleno verão. Impressionante que está acessível através de um voo de São Paulo até Buenos Aires e outro até Ushuaia, mas o percurso e paisagens do caminho, somente quem se aventura, como fizemos, consegue entender.
Ushuaia é a cidade mais ao sul (austral) de todo o mundo, por isso é conhecida como “Fin Del Mundo”, atraindo turistas de todo o mundo. São várias atrações, como o passeio no Canal de Beagle para se ver as colônias de Pinguins. A cidade também possui diversos parques. Em um deles está o Presídio de Ushuaia (um dos três famosos da América, ao lado de Alcatráz e do presídio da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, famoso em filme, por conta da fuga do prisioneiro ‘Papillon’). O presídio, aliás, foi a razão da criação da cidade. Também visitamos o Museu Marítimo. Muito interessante.
E em Ushuaia, claro, não se pode deixar de ir literalmente ao fim do mundo: o místico km 3079, fim da Ruta 3, último da estrada mais ao sul do mundo, no Parque Nacional da Tierra del Fuelgo.
O frio e vento são intensos, e a cidade possui alguns pubs acolhedores. Visitamos toda Ushuaia e depois começamos uma nova aventura: trilhar a Ruta 40, bem mais complexa e rústica que a Ruta 3 pela qual viemos. O objetivo era alcançar El Calafate e visitar as geleiras de Perito Moreno, no Parque Nacional de Los Glaciares. Sem dúvida, uma das visões mais espetaculares da natureza nesta pouco conhecida América do Sul, para muitos…
Caminhando por passarelas é possível avistar Glaciares de mais de 5 km, e ficar observado, especialmente no verão, grandes placas de gelo se descolarem e caírem no Lago Argentino, com um grande estrondo. Parece pouco atrativo falando desta forma, mas é uma experiência única.
O retorno até Ribeirão Preto foi longo, passando por Bariloche e outras capitais de províncias como Neuquén (você certamente já comeu uma maça de lá), Rosário (onde conhecemos o prédio onde nasceu Che Guevara) e Posadas, por exemplo, totalizando uma aventura de mais de 11 mil quilômetros e passando por quatro países.